Microbiologistas estão procurando novas drogas cerebrais em um lugar aparentemente improvável: amostras de fezes humanas. No processo, eles diluem o material da amostra com a finalidade de isolar e cultivar bactérias que poderão produzir novos tratamentos para a depressão e outros distúrbios do cérebro e do sistema nervoso.

O laborátorio Holobione, composto apenas de oito pessoas, busca resultados a partir das evidências crescentes de estudos epidemiológicos e animais que vinculam bactérias intestinais a condições tão diversas quanto autismo, ansiedade e doença de Alzheimer. O CEO da empresa, Phil Strandwitz, ainda não pode dizer exatamente que forma os novos tratamentos tomarão. Mas as doenças direcionadas incluem depressão e insônia, constipação e dor visceral como a típica da síndrome do intestino irritável – condições que podem ter componentes neurológicos e intestinais.

A ideia é simples: o desenvolvimento de medicamentos para distúrbios neuropsiquiátricos está atrasado há décadas, e muitos medicamentos existentes não funcionam para todos os pacientes e causam efeitos colaterais indesejados. Um número crescente de pesquisadores vê uma alternativa promissora em tratamentos baseados em micróbios, ou “psicobióticos”, termo cunhado pelo neuroparmacologista John Cryan e pelo psiquiatra Ted Dinan, ambos da University College Cork.

Os residentes bacterianos do intestino podem influenciar os neurônios e o cérebro através de várias rotas.

Pesquisadores epidemiológicos descobriram conexões intrigantes entre distúrbios intestinais e cerebrais. Por exemplo, muitas pessoas com síndrome do intestino irritável também estão deprimidas, as pessoas no espectro do autismo tendem a ter problemas digestivos e as pessoas com Parkinson são propensas à constipação.

Os pesquisadores também notaram um aumento da depressão em pessoas que tomam antibióticos – mas não medicamentos antivirais ou antifúngicos que deixam as bactérias intestinais intactas.

Num estudo, que foi publicado na Nature Microbiology, os pesquisadores analisaram os tipos de bactérias intestinais de mais de mil pessoas (Belgas e holandesas) e concluíram que as pessoas com depressão tinham déficits de duas espécies bacterianas.

Os pesquisadores vêem maneiras pelas quais os micróbios intestinais podem influenciar o cérebro. Alguns podem secretar moléculas mensageiras que viajam através do sangue para o cérebro. Outras bactérias podem estimular o nervo vago, que vai da base do cérebro até os órgãos do abdômen. Moléculas bacterianas podem transmitir sinais para o vago através de células “neuropodes” descobertas recentemente que ficam no revestimento do intestino, sentindo seu ambiente bioquímico, incluindo compostos microbianos. Cada célula possui um “pé” longo que se estende para fora para formar uma conexão sinapselóide com células nervosas próximas, incluindo as do vago.

As bactérias intestinais são essenciais para o desenvolvimento e manutenção adequados do sistema imunológico, e estudos mostram que ter a mistura errada de micróbios pode inviabilizar esse processo e promover a inflamação.

Os produtos microbianos podem influenciar o que são conhecidas como células enteroendócrinas, que residem no revestimento do intestino e liberam hormônios e outros peptídeos. Algumas dessas células ajudam a regular a digestão e controlar a produção de insulina, mas também liberam o neurotransmissor serotonina, que escapa do intestino e viaja por todo o corpo.

O grupo de pesquisadores segue confiante de que bons resultados surgirão desse processo.

“Eu realmente acredito que você pode aproveitar o poder de um milhão de anos de sinalização por bactérias intestinais para ajudar as pessoas.” diz a pesquisadora Katya Gavrish

Mais informações na fonte: Science mag / Crédito da imagem de capa: Ken Richardson






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